9 de dezembro de 2007

Comentário ao filme “A cidade de Deus”

Depois da visualização do filme “A cidade de Deus” na aula de Demografia e Migrações do dia 07 de Novembro de 2007, foi-nos proposto a elaboração de um pequeno trabalho, cujos temas passariam pelo comentário ao filme ou por outros diversos temas propostos pelo docente. Deste modo, foi minha opção fazer o comentário ao filme, analisando ainda um dos vários temas propostos pelo professor, nomeadamente o desvio e a norma em contexto (sub) urbano..
Constato assim que verdadeiro protagonista é a Cidade de Deus, que por sua vez é um ghetto, que surgiu nos anos 60, e que se tornou num dos lugares mais perigosos do Rio de Janeiro, no início dos anos 80. Ao mesmo tempo que o filme acompanha o crescimento deste lugar, fixamo-nos com mais atenção em dois jovens, Buscapé e Dadinho. Enquanto o primeiro torna-se fotógrafo acidentalmente e assim consegue fugir ao mundo do crime, o segundo torna-se um dos maiores traficantes do Rio de Janeiro.
Os vários capítulos ou segmentos inserem-se numa estrutura tripartida, com a chegada dos moradores (vítimas de diversos contextos) e a introdução do terror gerado por grupos criminosos de menores.
Na altura, Buscapé revela uma pertinente admiração pelos bandidos do Trio Ternura – onde se incluía o seu irmão, Cabeleira.
Todavia, com o passar dos anos, este terror vivido na Cidade de Deus aumenta, à medida que o tráfico de droga se torna a maior fonte de rendimento dos referidos “marginais”, que por sua vez reúnem cada vez mais jovens muito novos e fáceis de dominar, incutindo-lhes os valores que lhes convêm, podendo estes ser os erros em relação à norma social. Afinal, o que importava era passar a mensagem que o roubo, o tráfico de droga e, tudo o que daí surge era a solução para os problemas existentes no ghetto.
Com o desenvolvimento do filme, verificamos que a violência se torna ponto fundamental no mesmo, chegando o público a aperceber-se que a mesma pode surgir em qualquer beco da Cidade.
Assim, fazendo ainda menção ao desvio e à norma em contexto (sub) urbano constato que o desvio está evidente inicialmente no filme, quando os referidos “criminosos” consideram o crime, o roubo e o tráfico de drogas a solução para os seus problemas, na medida em que permitiria o um aumento do capital económico de cada um. Deste modo, o desvio à norma clarifica-se ainda mais com o desenvolvimento do filme e com as incontáveis e cruéis mortes de inocentes.
Com o desenrolar do filme, verificamos um conjunto de práticas, comportamentos e linguagem contextualizadas apropriadas ou características de um cenário ghettizado. Assim, cada “favela” tem as suas normas, regras e “chefes” e, como tal devem respeitar o espaço que não é do seu domínio. Por isso, cito assim o exemplo pertinente do filme, nomeadamente da “favela” do Cenoura e, do Zé Pequeno. Ambos ocupavam áreas diferentes e tentavam respeitar, inicialmente, a área do inimigo. Todavia, com o desenvolver o filme verificamos que essas normas e regras posteriormente impostas não foram cumpridas, gerando assim um cenário ainda mais violento. Menciona-se ainda que dentro das próprias “favelas” existem regras, que devem ser cumpridas pelos seus habitantes, podendo estes ser sancionados por se desviarem à norma pré-estabelecida.
Contudo, o filme «Cidade de Deus» permite observar as realidades dos ghettos e o domínio dos traficantes (que por sua vez têm comportamentos desviantes) e, que tentam apoderar-se dos mais novos, transmitindo-lhes valores errados de socialização, normas, regras e condutas.
O filme termina a evidenciar o final menos feliz para os criminosos, com algumas mortes e, o “apoio” e a dificuldade da polícia em combater alguns deles (Zé Pequeno), chegando ao ponto de lhes extorquir dinheiro, de modo a evitar detenções.
Na minha opinião, o filme teve um resultado positivo da consciência de cada um, permitindo ainda observar a dura realidade nos contextos (sub) urbanos, sustentada pelos comportamentos desviantes.

Verónica Augusto