5 de dezembro de 2007

AMP

Analisando os resultados definitivos dos Censos 2001 e das Estimativas Anuais da População Residente feitas pelo INE podemos identificar um conjunto de tendências relevantes do ponto de vista demográfico no que toca à Área Metropolitana do Porto.
Em 2001, os Censos apontavam para uma população total de 1260680 indivíduos a residir no Grande Porto – verificava-se uma predominância do sexo feminino, superior em mais de 50000 unidades ao masculino. Nesta altura, Vila Nova de Gaia já era o concelho mais populoso (reunia 288749 habitantes), seguido do Porto (263131) e de Matosinhos (167026); o menos populoso era também o mais pequeno em área, Espinho (33701).
Já em 2004, nas Estimativas Anuais da População Residente, lançadas pelo INE, registava-se um aumento populacional de perto de 11500 habitantes no Grande Porto. Este ficava, assim, com 1272176 habitantes. Se, por um lado, este aumento de 11500 habitantes em 3 anos pode não ser encarado como algo de totalmente extraordinário ou inesperado – pela melhoria das condições de vida e aumento da esperança de vida, êxodo rural, etc. –, há outros dados destas estimativas que quando comparados com os resultados dos Censos 2001 certamente o são. Começando pelo mais significativo, estima-se que em 3 anos o concelho do Porto tenha perdido mais de 24000 habitantes, o que evidencia uma clara fuga massiva do centro da área metropolitana que não pode ser ignorada. Em grande parte consequente disso é o aumento de cerca de 11000 habitantes que Vila Nova de Gaia regista, assumindo-se, cada vez mais, como o concelho mais populoso da AMP. A Vila Nova de Gaia seguem-se Valongo e Gondomar, que acolhem aproximadamente 5000 novos residentes, e a Maia com mais 4000. Atentando nestes números é possível inferir um êxodo bastante significativo do centro para a periferia, sendo Vila Nova de Gaia o destino preferencial. Obviamente que não se poderá estabelecer uma relação tão directa que nos permita afirmar que, por exemplo, os 11000 habitantes que Gaia ganhou provenham por completo de imigrações da AMP, ou mais particularmente do Porto (sendo também admissível Espinho), para o seu concelho, mas com certeza que uma grande parte desses números sê-lo-ão. Note-se ainda que, para além do Porto, Espinho foi o único concelho a perder habitantes face aos Censos 2001 – cerca de 2000.
As mesmas Estimativas Anuais da População Residente realizadas pelo INE dois anos depois, em 2006, confirmam as tendências atrás referidas. Os concelhos que em 2004 ganhavam habitantes são os mesmos que em 2006, bem como os que perdiam. No total, a AMP aumentou para 1279923 a sua população – quase 8000 em relação a 2004. Vila Nova de Gaia continua a ser o concelho que mais aumenta em população (7000 novos habitantes) e o Porto o que mais perde (menos 10000 residentes). O segundo e terceiros maiores aumentos pertencem à Maia e a Valongo – mais 5000 e 3000 habitantes, respectivamente. Repete-se ainda o único concelho que diminui em população para além do Porto. Assim, Espinho perde mil habitantes em dois anos.
Estas tendências parecem ser bastante consistentes pois não se verificam em exclusivo no séc. XXI, analisado até este ponto. Com base num estudo publicado pelo INE respeitante aos fluxos migratórios inter-concelhios na AMP entre os anos de 1985 e 1991 podemos facilmente apercebermo-nos de um decréscimo de população a residir no centro desta área metropolitana compensado com um acréscimo nos concelhos que lhe estão mais próximos, nomeadamente, Gondomar, Matosinhos e Vila Nova de Gaia. O Porto perde, então, um grande volume dos seus habitantes – 213377 emigram e apenas 5947 imigram, o que perfaz um saldo negativo de -15430 habitantes –, em primeiro lugar para Matosinhos (6735), seguido de Gaia (5342) e Gondomar (4211). O saldo migratório mais elevado pertence a Matosinhos, que reúne 22,6% da população considerada. Atrás encontra-se Vila Nova de Gaia com 17,7%
A tendência de fuga ao centro mantém-se, os comportamentos demográficos são em tudo semelhantes. Muda o peso de Vila Nova de Gaia que passa de 2º destino preferencial para um domínio esmagador como concelho mais populoso, e que nos últimos anos tem vindo a acentuar esse posto.

Dalila Gouveia
Frederico Ferreira da Silva
Pedro Barbosa